«Tínhamos uma noção do momento histórico que estávamos a viver». Porfírio Ramos era furriel - posto da classe de sargentos - no Regimento de Infantaria (RI) 10 de Aveiro quando, na madrugada de 25 de Abril de 1974, fez parte da força que avançou em apoio do Movimento dos Capitães que iria derrubar o regime do Estado Novo.
Ao Diário de Aveiro, deu conta de que oficiais e sargentos previam «o que ia acontecer», com nota de que após as canções senha - “E depois do adeus” e “Grândola” - houve ordens para formar e que «os soldados foram equipados, foram-lhe distribuídas munições» e entraram nas viaturas de transporte.
Jorge Afonso, furriel de Cacia, como Porfírio Ramos, também estava no RI 10 e contextualizou a situação, salientando que, «uns oito a 15 dias antes», tinha chegado à unidade aveirense «um capitão vindo dos Comandos de Lamego». Assinalou que o capitão Pizarro veio com o pretexto de «dar aulas de quadros», ou seja, de assumir ações de formação dirigidas a furriéis e aspirantes.
Enfatizou que o propósito desse graduado era outro: «Tomar conta da situação» e preparar a participação do Regimento de Infantaria no 25 de Abril. «Logo no dia 24, deu-nos umas dicas, dizendo que, nas próximas horas, íamos enfrentar uma situação muito importante», declarou.
Testemunhou que, na noite de 24 de abril de 1974, o capitão Pizarro assumiu o comando «da companhia mais operacional» do Regimento de Infantaria, que era a Companhia de Caçadores, onde estava integrado o furriel Porfírio Ramos.
«E fomos para sul», recordou Porfírio Ramos, informando que «a primeira paragem» da força saída de Aveiro «foi no Regimento de Artilharia Pesada (RAP 3) da Figueira da Foz», onde estava Dinis de Almeida, representante do Movimento dos Capitães na região Centro.
O então furriel aveirense disse ter assistido à detenção do comandante do RAP 3, bem como à tomada do paiol de armas e munições dessa unidade, a mando de Dinis de Almeida. «Levámos armas ligeiras e uma bateria de armas pesadas», acentuou.
A coluna passou, depois, pelas Caldas da Rainha, sem qualquer «ocorrência» significativa, e seguiu para Peniche, cujo forte albergava «forças fiéis ao regime, que não queriam aderir ao movimento». As negociações para a rendição não foram conclusivas e «uma bateria de canhões» foi apontada ao forte.